Por Cícero Márcio da Hora Nascimento
A
onda de intolerância tem crescido em várias esferas do viver em sociedade.
Antes de criticar ou tecer quaisquer comentários negativos a respeito do
assunto, é necessário buscar-se as origens de tal “onda crescente” da
polaridade reinante atualmente. Como surgem ideias extremas? Qual o fator
motivador desse turbilhão de efervescência social? O que fazer?
Partindo
sob o prisma de que o ser humano é pensante e por menos intelectualizado que seja
é dotado com capacidade de absorver as informações que estão disponíveis e a
partir destas conceber suas visões axiológicas do que considera ser
justo/injusto, bem/mal, moral/imoral e etc. Associado a isso ocorre que também
a espécie humana é intrinsecamente política e social, ou seja, tem a capacidade
e/ou necessidade de viver partilhando espaço comum, com experiências e concepções
individuais, mas precipuamente coletivas. Assim sendo, chega-se a conclusão que
a sociedade é formada sob esse viés, composição de uma espécie com essas
características. O próprio Estado, comunidade política em determinado espaço
territorial, tem que ser estabelecido obedecendo-se a isso. E para que existe o
Estado então? Deveria ser para atender o assim chamado bem comum. Mas, como é
sabido, não raras vezes os que detêm o poder político e econômico formulam-no
como sendo algo que se distancia dos anseios sociais. Como o Homem é racional,
pensa logicamente, não suporta o fato de ser enganado pela entidade que tem por
razão de ser Ele mesmo. Observa-se então que o próprio sistema com suas falhas,
proposital ou não, é responsável pelas reações nos mais diversos níveis. Alguns
indivíduos se silenciam, isso não quer dizer que concordem. Outros são mais
enfáticos, se pronunciando e partindo para o “campo de batalha” política, esta
não no sentido oficial.
Se
observar a história da humanidade estará repleta desses exemplos: O
estabelecimento de determinado ente, que mais cedo ou mais tarde não consegue
mais atingir os objetivos previamente estabelecidos – o bem comum. Sejam os
estados constitucionais, sejam outros tipos, cedo ou tarde, terminam criando
vícios que parcela considerável da população passa a questioná-los. Como,
normalmente diante da insatisfação social o Estado, na figura dos políticos
oficiais, não reage no sentido de atender as demandas, começam a surgir toda a
espécie de pensamentos que estão exatamente no polo oposto daqueles que
sustentam o poder político e ideológico. Infelizmente, aqueles que deveriam
zelar pela segurança social são os primeiros a negligenciá-la, desconsiderando
aspectos históricos e culturais de determinada comunidade ou região política. É
assim que surgem pensamentos extremados, seja a nível macro – internacional, ou
a nível micro- local.
Quando
Instituições não cumprem sua missão, escrita ou não, internamente começam a
despontar ideias que se tornam um contraponto. Como costumeiramente são ignoradas,
encaradas com desdém, alguns partem para a segunda etapa que é o uso mais
enfático em defesa de suas aspirações. É o caso dos diversos grupos dentro da
sociedade brasileira que não têm sua voz ouvida ou pelo menos não é atendida.
Que o diga a criação das diversas leis que flagrantemente desrespeitam a
sociedade, especialmente aquelas referentes à tributação, muito embora existam
outras, a exemplo da “lei da palmada”, retirando dos pais o poder de
disciplinar seus filhos, entendendo que era uma forma de lesão ao direito de
integridade física e psicológica do incapaz. No entanto, ao ser criada a norma,
foram desconsiderados aspectos histórico-sociais e culturais. E como era de se
esperar, muitas reações surgiram pós-publicação. Além disso, existe o atual
cenário de desmoralização daqueles que representam o poder político, os quais
estão envolvidos numa série de escândalos que deslegitimam sua pessoa e ações
perante o povo brasileiro.
Se
não houver um ponto no qual se repense a maneira como está organizado o Estado
Brasileiro, por parte daqueles que têm o dever moral e legal para fazê-lo, considerando-se
todos os aspectos inerentes a sociedade da qual e para qual é a razão de ser do
Poder desse, essa “onda de intolerância” continuará a crescer e talvez não se
resolva mais simplesmente com promessas vazias de campanhas eleitorais, pois em
muitas sociedades, o sentimento de ser injustiçado se transformou em revoltas
que custou muito sangue derramado. No próprio território brasileiro, muitas
vidas já foram ceifadas no passado e revoltas foram sufocadas, mas a um alto
preço. Será que precisamos chegar a esse ponto? Ouvir a população atendendo
suas necessidades mais básicas, como saúde, educação e direito a uma vida digna
não é algo intangível dentro da realidade de arrecadação tributária brasileira.
Só basta no lugar de tentar juntar esforços políticos para estancar a “sangria da
Lava Jato” ser desprendido para estancar a “sangria da corrupção”.