Nos últimos
dias nos deparamos com mais uma série de escândalos relacionados à corrupção no
Brasil. A bola da vez, como era de se esperar, é o então presidente Michel
Temer (líder reconhecido dentro da cúpula do PMDB) e o seu partido que não
tinham como estarem imunes a todas as questões que recentemente abalam o
cenário da política Brasileira. Porém, com tantas notícias sendo veiculadas,
com um tom de informações, devemos ir além para refletirmos sobre esse atual
quadro que devasta as instituições políticas de nosso país. Uma das perguntas a
serem feitas, diz respeito a: Já que esse quadro de corrupção tem indicado que
é geral na política partidária, o que fazer para mudar? Demonizar e culpar
apenas os partidos políticos é a solução? Ou teria algo mais profundo e
enraizado na Política brasileira que deve ser analisado?
Em primeiro
lugar não sou cientista político. Portanto, a visão aqui apresentada é a minha
percepção da atualidade referente à desmoralização política do ponto de vista
da observação e reflexão. Essas infindas operações que têm sido desencadeadas
pela Polícia Federal, com o amplo apoio do Ministério Público Federal e do
Poder Judiciário, demonstram cabalmente que existe um problema conjuntural e
estrutural na maneira como funciona a política no Brasil. Se formos observar
mais amiúde, perceberemos que boa parte dessa grana que tem sido dado a agentes
políticos, não é necessariamente embolsada por estes de maneira direta, ainda
que isso aconteça como efeito colateral, pois as delações indicam que são
fontes de financiamento de campanhas político-partidárias. Aqui já detectamos
um primeiro problema: A forma de funcionamento das campanhas políticas.
Sobre esse
ponto, não é nenhum exagero dizer que as campanhas políticas que visem às
eleições estão recheadas desse tempero de doações, que todos os partidos dizem
terem sido doadas de maneira legítima. E realmente, muito se confirma a esse
respeito, pois quase todos os políticos têm comprovantes de doação e declaração
junto a Justiça Eleitoral. Aí surge mais um questionamento: Se de fato são
fontes de financiamento de campanhas eleitorais, como é normalmente usado esse
dinheiro? Pois bem, a resposta que tenho neste momento é que: Campanhas
eleitorais no Brasil são realmente caras, pois muitos se beneficiam destas para
embolsar, para ganhar algum dinheirinho extra. E não estou falando dos
políticos profissionais de Brasília e sim daqueles que são responsáveis por
seus redutos, “currais eleitorais”. Estes podem ser entendidos a nível macro-
quando se refere a um Estado/ Cidade- mas também a nível micro- quando se refere
a pequenas comunidades, que têm uma liderança, normalmente intitulada de “cabo
eleitoral”. Tudo isso para os partidos políticos custa dinheiro e não é pouco.
Existem pessoas que não se elegem por faltar dinheiro para campanha, pois
alguns cabos eleitorais chegam a cobrar para um reduto desses algo na casa dos
R$ 100.000,00, se este reduto for numa faixa de votos na casa dos 500
eleitores. Eu mesmo já trabalhei numa cidade pequena que um vereador dominava
um pequeno povoado e segundo diziam ele vendia sua liderança aos pacotes- 50
votos para um por uma quantia e 50 votos para outro-.
Essas grandes
operações federais de fato são necessárias, mas elas só tocam a corrupção no
atacado e não denunciam o que está por trás de tudo isso que move as campanhas
políticas- uma grande movimentação financeira que não apenas atinge grandes
empresas, mas também cidadãos que muitas vezes se colocam como líderes dentro
de suas comunidades e vendem essa liderança a preço vil. Isso é de fato lesar os
princípios democráticos elencados em nossa Constituição Federal. Não é difícil
encontrar imagens, se pesquisarmos no Google, de anúncio de venda de votos e no
whatsapp também pessoas ofertando. A questão é mais séria do que parece.
Responsabilizar
partidos políticos e grandes figuras por isso tudo que vem acontecendo é de
fato uma novidade no Brasil, porém estamos nos esquecendo de perguntar se essas
ações têm atingido o âmago da corrupção. Certamente não. Vamos analisar do
seguinte ponto de vista: Não somos uma nação, madura politicamente, e como tal,
as pessoas, os pobres, que são a maioria neste país, são deixadas ao “Deus
dará”, por falta de políticas públicas por parte do Estado. O que lhes restam?
Restam apenas serem socorridas por terceiros, atuação que deveria ser do
Estado, durante quase todo o tempo. Quando precisam de assistência médica, surge
um “salvador”. Quando têm problemas com a justiça, encontra na figura deste
“salvador” seu amparo. Quando precisam de trabalho, eis o “salvador”, que
normalmente tem influência na prefeitura e consegue. Mas é claro, isso tem um
preço, a venda de sua fidelidade para se submeter à orientação daquele que o “salva”,
pois o Estado os deixa a deriva, e esses analfabetos políticos seguem a orientação
com muita gratidão. E deve ser levado ainda em consideração que muitas vezes
esse “salvador”, dispõe de dinheiro próprio, e assim como as grandes
empreiteiras não o fazem por altruísmo ou posicionamento político ideológico,
mas tudo perfeitamente calculado como um negócio, um investimento.
Toda essa
maquinaria da corrupção de fato envolve muitas pessoas, que não são apenas
aquelas que têm sido noticiadas nos jornais pela grande mídia. Para aqueles que
vivem num mundo de ilusões, entorpecidos pela visão que a grande mídia tem
passado, e não estão envolvidos diretamente com essa situação de
vulnerabilidade, não saberiam mensurar a dimensão desse assunto aqui tratado. Isso
funciona como uma grande indústria de votos. Todos aqueles que estão envolvidos
com o pleito eleitoral, sabem bem que é assim que ocorre o processo. O sistema
funciona dessa maneira. A Nova República parece ainda não ter superado “o voto
de cabresto”, mudou-se só a terminologia.
Operações
dessa natureza que têm sido feitas, se não forem acompanhadas de uma séria
mudança de paradigma político, rompendo definitivamente com a Velha República,
com a implantação de políticas públicas efetivas, para que quebre esse ciclo de
corrupção, que vai do mais alto até o nível inferior da política, não
conseguirá atingir os objetivos democráticos. Um bom começo deveria ser
discutir a ”Reforma Política”, abordando essa questão do financiamento de
empresas a partidos políticos. Além disso, assistir a população, de uma maneira
mais efetiva, estabelecendo o Estado do Bem Estar Social, inegavelmente
destruiria a figura do “Salvador filantropo”, pois não restaria mais espaço
para o mesmo. Se assim não for feito, essas grandes operações apenas mudará o
“modus operandi” dos beneficiários deste sistema e “tudo continuará como dantes no quartel de
Abrantes”.
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