terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Sistema de campanhas políticas no Brasil


Nos últimos dias nos deparamos com mais uma série de escândalos relacionados à corrupção no Brasil. A bola da vez, como era de se esperar, é o então presidente Michel Temer (líder reconhecido dentro da cúpula do PMDB) e o seu partido que não tinham como estarem imunes a todas as questões que recentemente abalam o cenário da política Brasileira. Porém, com tantas notícias sendo veiculadas, com um tom de informações, devemos ir além para refletirmos sobre esse atual quadro que devasta as instituições políticas de nosso país. Uma das perguntas a serem feitas, diz respeito a: Já que esse quadro de corrupção tem indicado que é geral na política partidária, o que fazer para mudar? Demonizar e culpar apenas os partidos políticos é a solução? Ou teria algo mais profundo e enraizado na Política brasileira que deve ser analisado?
Em primeiro lugar não sou cientista político. Portanto, a visão aqui apresentada é a minha percepção da atualidade referente à desmoralização política do ponto de vista da observação e reflexão. Essas infindas operações que têm sido desencadeadas pela Polícia Federal, com o amplo apoio do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário, demonstram cabalmente que existe um problema conjuntural e estrutural na maneira como funciona a política no Brasil. Se formos observar mais amiúde, perceberemos que boa parte dessa grana que tem sido dado a agentes políticos, não é necessariamente embolsada por estes de maneira direta, ainda que isso aconteça como efeito colateral, pois as delações indicam que são fontes de financiamento de campanhas político-partidárias. Aqui já detectamos um primeiro problema: A forma de funcionamento das campanhas políticas.
Sobre esse ponto, não é nenhum exagero dizer que as campanhas políticas que visem às eleições estão recheadas desse tempero de doações, que todos os partidos dizem terem sido doadas de maneira legítima. E realmente, muito se confirma a esse respeito, pois quase todos os políticos têm comprovantes de doação e declaração junto a Justiça Eleitoral. Aí surge mais um questionamento: Se de fato são fontes de financiamento de campanhas eleitorais, como é normalmente usado esse dinheiro? Pois bem, a resposta que tenho neste momento é que: Campanhas eleitorais no Brasil são realmente caras, pois muitos se beneficiam destas para embolsar, para ganhar algum dinheirinho extra. E não estou falando dos políticos profissionais de Brasília e sim daqueles que são responsáveis por seus redutos, “currais eleitorais”. Estes podem ser entendidos a nível macro- quando se refere a um Estado/ Cidade- mas também a nível micro- quando se refere a pequenas comunidades, que têm uma liderança, normalmente intitulada de “cabo eleitoral”. Tudo isso para os partidos políticos custa dinheiro e não é pouco. Existem pessoas que não se elegem por faltar dinheiro para campanha, pois alguns cabos eleitorais chegam a cobrar para um reduto desses algo na casa dos R$ 100.000,00, se este reduto for numa faixa de votos na casa dos 500 eleitores. Eu mesmo já trabalhei numa cidade pequena que um vereador dominava um pequeno povoado e segundo diziam ele vendia sua liderança aos pacotes- 50 votos para um por uma quantia e 50 votos para outro-.
Essas grandes operações federais de fato são necessárias, mas elas só tocam a corrupção no atacado e não denunciam o que está por trás de tudo isso que move as campanhas políticas- uma grande movimentação financeira que não apenas atinge grandes empresas, mas também cidadãos que muitas vezes se colocam como líderes dentro de suas comunidades e vendem essa liderança a preço vil. Isso é de fato lesar os princípios democráticos elencados em nossa Constituição Federal. Não é difícil encontrar imagens, se pesquisarmos no Google, de anúncio de venda de votos e no whatsapp também pessoas ofertando. A questão é mais séria do que parece.
Responsabilizar partidos políticos e grandes figuras por isso tudo que vem acontecendo é de fato uma novidade no Brasil, porém estamos nos esquecendo de perguntar se essas ações têm atingido o âmago da corrupção. Certamente não. Vamos analisar do seguinte ponto de vista: Não somos uma nação, madura politicamente, e como tal, as pessoas, os pobres, que são a maioria neste país, são deixadas ao “Deus dará”, por falta de políticas públicas por parte do Estado. O que lhes restam? Restam apenas serem socorridas por terceiros, atuação que deveria ser do Estado, durante quase todo o tempo. Quando precisam de assistência médica, surge um “salvador”. Quando têm problemas com a justiça, encontra na figura deste “salvador” seu amparo. Quando precisam de trabalho, eis o “salvador”, que normalmente tem influência na prefeitura e consegue. Mas é claro, isso tem um preço, a venda de sua fidelidade para se submeter à orientação daquele que o “salva”, pois o Estado os deixa a deriva, e esses analfabetos políticos seguem a orientação com muita gratidão. E deve ser levado ainda em consideração que muitas vezes esse “salvador”, dispõe de dinheiro próprio, e assim como as grandes empreiteiras não o fazem por altruísmo ou posicionamento político ideológico, mas tudo perfeitamente calculado como um negócio, um investimento.
Toda essa maquinaria da corrupção de fato envolve muitas pessoas, que não são apenas aquelas que têm sido noticiadas nos jornais pela grande mídia. Para aqueles que vivem num mundo de ilusões, entorpecidos pela visão que a grande mídia tem passado, e não estão envolvidos diretamente com essa situação de vulnerabilidade, não saberiam mensurar a dimensão desse assunto aqui tratado. Isso funciona como uma grande indústria de votos. Todos aqueles que estão envolvidos com o pleito eleitoral, sabem bem que é assim que ocorre o processo. O sistema funciona dessa maneira. A Nova República parece ainda não ter superado “o voto de cabresto”, mudou-se só a terminologia.
Operações dessa natureza que têm sido feitas, se não forem acompanhadas de uma séria mudança de paradigma político, rompendo definitivamente com a Velha República, com a implantação de políticas públicas efetivas, para que quebre esse ciclo de corrupção, que vai do mais alto até o nível inferior da política, não conseguirá atingir os objetivos democráticos. Um bom começo deveria ser discutir a ”Reforma Política”, abordando essa questão do financiamento de empresas a partidos políticos. Além disso, assistir a população, de uma maneira mais efetiva, estabelecendo o Estado do Bem Estar Social, inegavelmente destruiria a figura do “Salvador filantropo”, pois não restaria mais espaço para o mesmo. Se assim não for feito, essas grandes operações apenas mudará o “modus operandi” dos beneficiários deste sistema  e “tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes”. 


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